Artigo do secretário-chefe da Casa Civil, José de Oliveira Junior, fala sobre a democratização do uso informática, entendendo-a como um novo bem essencial à vida em sociedade, principalmente com o advento das “cidades digitais”. Nesta perspectiva, o texto do secretário destaca a preocupação do Governo do Estado em acompanhar o surgimento das novas tecnologias da informação e da comunicação, além de abordar as pretensões e perspectivas do Programa “Sergipe Digital”, destacando as mudanças que projeto trará para a sociedade do nosso Estado.
É de 1995 o livro de Nicholas Negroponte, best-seller famoso traduzido para mais de quarenta idiomas, “A Vida Digital”. Em 2007, somente 12 anos depois, algumas das previsões futuristas do autor tornaram-se parte da nossa realidade cotidiana. No livro, Negroponte sugeriu que o futuro da transmissão de dados se daria através de ondas, “desligando” os computadores dos fios da telefonia da época para conectá-los através de antenas receptoras de ondas. Visto hoje, parece óbvio que o paradigma dos conhecidos e antigos aparelhos de rádio eram analogia mais adequada para a conexão de computadores à internet que o modelo dos telefones analógicos presos a fios, constatação, aliás, da qual a disseminação recente da telefonia celular é prova brutal.
O mesmo autor, na virada do milênio, iniciou o projeto mundialmente conhecido pela sigla OLPC – One Laptop per Child (um computador por criança), ao qual o Governo brasileiro aderiu em junho de 2005, em um encontro histórico de Negroponte, Seymour Papert e o presidente Lula. O projeto OLPC é a origem da idéia popularizada com o mote do “computador de cem dólares”. Por trás dele, um sonho unifica os críticos da desigualdade social e da exclusão digital: o da democratização do uso da informática e da comunicação pela universalização do acesso, assim como hoje pensamos que deva acontecer com os bens essenciais à vida em sociedade, como alimento, água, energia, saúde e educação. O computador, acessando a internet, é bem cultural que, como um livro, viabiliza oportunidades de educação e trabalho que, por isso, pode ser um eficiente instrumento de redução da desigualdade social.
Pois bem, a idéia inicial de que a internet seja acessada por dispositivos receptores de ondas, tão simples e baratos como são os nossos famosos radinhos de pilha, é agora moda high-tech.
Recebe o genérico e pomposo nome de “tecnologias wireless”, e dividem-se em vários padrões alternativos reconhecidos por siglas como wi-fi, wi-max ou mash. As principais cidades do país querem o para si o rótulo de “cidades digitais”. Em setembro deste ano, Nova York anunciou para 2008 um projeto de cobertura da metrópole com uma rede wi-max, a ser operada pela Samsung e Sprint. Menos de duas semanas depois foi a vez do próprio prefeito de Paris tornar público seu projeto para oferecer redes sem fio, de alta velocidade, em vários pontos da urbe. Como em várias outras cidades no mundo e no Brasil, a facilidade tecnológica está levando o poder público a complementar ou induzir a oferta das novas tecnologias pelo mercado, reconhecendo a importância da internet como instrumento para a competitividade.
Aqui em Sergipe, o governo do Estado acompanha com atenção e algum entusiasmo esses anúncios. O projeto intitulado Sergipe Digital tem a pretensão de ir além das necessidades tecnológicas do Governo – embora abrangendo em toda a amplitude o conceito de Governo eletrônico, e persegue uma meta de inclusão digital contemporânea, aderindo à tese de um computador por família conectado à internet.
Sabemos que Sergipe não dispõe de oferta de redes para o acesso barato e simples à internet em todos os municípios, mesmo sendo o menor estado brasileiro. Essa dificuldade pode ser superada rapidamente se pudermos implantar essas novas tecnologias sem fio, oportunizando o acesso à contemporaneidade da tecnologia de informações e comunicação. As facilidades geográficas e a reduzida extensão territorial tornam esta meta factível, se associada aos projetos também ambiciosos do governo federal, como o do computador de cem dólares ou o projeto do MEC de um computador por aluno.
Modelos como os que Nova York e Paris implementam são, naquelas grandes e ricas cidades, apenas mais uma novidade tecnológica entre tantas outras. Mais uma traquitana high-tech para os ricos e bem nascidos. Em Cumbe, Itaporanga, Tomar do Geru ou outros setenta e tantos municípios sergipanos pode ser caminho efetivo de redução da desigualdade, para a criação de oportunidades de acesso à educação, cultura, informação e, como conseqüência que desejamos próxima, emprego e renda.
Por José de Oliveira Júnior – secretário-chefe da Casa Civil